Um dia no deserto
Perto de Jaisalmer tem um vilarejo de nome Khuri. Minúsculo e na borda de um deserto, ele depende do dinheiro que vem dos safaris com camelos, exatamente o que fomos la fazer.
Perae! Andar a camelo no deserto sempre foi algo que quis fazer. Pra ficar melhor ainda, iríamos dormir uma noite nas dunas.
Depois de quase um mês no Chaco Paraguaio andando a cavalo todos os dias, andar nesse bicho é sussa. Montar até é fácil mesmo, pois eles ficam deitados, mas quando eles se levantam dá um baita cagaço. Primeiro ele estica as patas traseiras e você é jogado pra frente, só depois ele se endireita. A impressão é que ele está te jogando e que você vai cair de cara na areia.
Rumamos sentido deserto e por mais elegante que seja o andar desse bicho gigante, a sela usada machuca a bunda e é desconfortavel. Também não há estribos para apoiar os pés, o que te dá muito mais trabalho pra manter o equilibrio. Diversas vezes virei pra tirar uma foto e achei que fosse cair.
Trinta minutos camelando literalmente, e chegamos no topo de umas dunas, e a visão é incrível. Areia pra todos os lados, vegetação zero e ninguém além de nós. Desmontamos e começamos a andar, e em vários lugares o pé afundava inteiro, enchendo o tênis de areia que se acomodava nos espaços entre os dedos e no arco da sola do pé, formando uma palmilha natural.
Cruzamos com exemplares da vida que existe lá, um lagarto que deveria ter 4 cm no máximo e besouros.
O por do sol na Índia vem se mostrando muito bonito, mas especialmente no deserto é um espetáculo a parte. As cores vão do vermelho ao azul, passando pelo amarelo e laranja.
Voltamos pro vilarejo para jantar e nos preparar para dormir no deserto. O jantar foi típico, com arroz, vegetais misturados, feijão do desrto, chapati e um molho que deveria ser a base de mostarda.
De bucho cheio, nos preparamos para dormir no deserto. Sentamos no camel car, que é uma carroça puxada por um camelo, e entramos na noite de volta para as dunas. Nesse momento, ninguém sabia como seria, e existia uma apreensão geral. Vimos tendas e tínhamos certeza de que dormiríamos alí mesmo, mas para nossa surpresa, seguimos viagem. Um tempo depois paramos e nosso guia falou para descermos. No meio daquela imensidão de nada, estávamos entre uma camada de areia e outra de estrelas.
Nossa carroça começou a ser descarregada e só aí percebemos que estávamos sentados o tempo todo em cima das nossas camas. Uma estrutura retangular de ferro, com quatro pés e com fita trançada que serve de estrado e colchão ao mesmo tempo. Alguns edredons e nada mais.
Deitamos naquele breu, usando lanternas e tentando encontar posições confortáveis. Olhamos para o céu e era possível ver todas as estrelas. No deserto não existem nuvens, o que faz com que de dia seja um calor infernal e a hoite um frio glacial. Estrelas cadentes eram mais do que comuns.
Foi uma noite péssima de sono, mas uma experiência memorável. Acordei diversas vezes com as orelhas congelando de frio, mas isso também rendeu algumas visões inesquecíveis. A lua que ia aos poucos se mostrando ao longo da noite e o nascer do Sol, que se seguiu.
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